Dealing with the social dilemma
- Francisca Teodósio
- 10 de mai. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 31 de mai. de 2022
Conheçam dois documentários que vão mudar o vosso ponto de vista sobre as redes sociais e o dilema que se coloca quanto à continuação (excessiva) da sua utilização.
Lembram-se quando as nossas avós nos falavam de algo que tinham visto “lá na Internet”, que parecia tão irreal ou utópico que a nossa reação imediata era perguntar, quase como se nem precisássemos de resposta, se tinha sido no Facebook? Ora, a verdade é que as fake news e o fenómeno da desinformação estão cada vez mais presentes, não só no Facebook, como em qualquer rede social, e nós somos agora as “avós”, e temos cada vez mais dificuldade em distinguir o que é real ou não. É esta a influência que as redes sociais têm vindo a ganhar na nossa forma de pensar e, consequentemente, no nosso comportamento.
Nos últimos dias, assisti a dois documentários, muito diferentes, mas cujo tema é exatamente o mesmo: o controlo que as redes sociais, e a falsa informação que nela é transmitida, exercem sobre a nossa forma de pensar, agir e viver as nossas vidas.
FYRE: The Greatest Party That Never Happened
Este foi o primeiro documentário a que assisti, sobre o qual já tinha ouvido falar inúmeras vezes. Mas, caso não o conheçam, passo a contextualizar: o Fyre Festival foi um festival de música de luxo organizado numa ilha paradisíaca nas Bahamas, em 2017, que, na prática, não passou de um enorme fracasso. No seguimento da ideia de criar uma plataforma que facilitasse o agenciamento de artistas musicais – a Fyre –, Billy McFarland e o seu sócio, o rapper Ja Rule, quiseram criar “o maior festival do mundo” para promover a sua ideia inicial, contratando trabalhadores, anunciando bandas e vendendo bilhetes para um evento que acabou por nunca chegar a acontecer.

Depois de definido o local do festival, o passo seguinte foi a contratação de um grupo de modelos de renome, como Kendall Jenner, Hailey Baldwin e Emily Ratajkowski, para a realização de um vídeo promocional do evento. E, com o vídeo já lançado, começou o verdadeiro desafio – compreender como é que seria possível realizar um festival de tamanha dimensão, semelhante ao Coachella, em pouco mais de três meses, numa ilha praticamente deserta, sem acesso a esgotos e água potável.
No entanto, isso não era uma preocupação para aqueles que iriam atender o festival, até porque essas informações não lhes eram transmitidas. Depois do vídeo promocional e uma onda de publicações de influencers, apenas de um quadrado laranja com o hashtag #fyrefestival, os quase cinco mil bilhetes não demoraram mais de 24 horas a esgotar, e tudo graças à comunicação feita nas redes sociais até ao momento. Para as pessoas, esta era como uma “fantasia” da qual poderiam vir a fazer parte, e era exatamente isso que as redes sociais lhes mostravam, dia após dia.
Mas, à medida que o tempo passava e a data do festival se aproximava, as adversidades tornavam-se incontornáveis, de tal forma que, na véspera do grande dia, não havia condições para receber aqueles que chegavam na manhã seguinte. Tal foi o espanto dessas pessoas quando, em vez das cabanas e bungalows de luxo e refeições caras, como lhes fora prometido, se depararam com tendas encharcadas com colchões no chão e fatias de pão com queijo embaladas - prova da magia das redes sociais.

O caso do Fyre Festival é o exemplo perfeito do poder que as redes sociais têm na criação de narrativas, e como estas podem facilmente distorcer a realidade. No caso, por não existir uma estratégia de redes previamente definida e alinhada com as restantes estruturas da organização do evento, as pessoas acreditaram em algo que, na verdade, nem sequer existia.
The Social Dilemma
O segundo documentário, The Social Dillema, fala-nos da forma como os nossos cérebros estão a ser manipulados, e até reprogramados, por algoritmos que são criados com o objetivo de captar a nossa atenção, fazer-nos querer comprar determinados produtos e acreditar em ideias distorcidas sobre o mundo, sobre nós próprios e sobre quem nos rodeia.

Uma curiosidade acerca deste documentário é que muitos dos peritos que dão o seu parecer sobre o fenómeno das redes sociais e o impacto que estas exercem sobre nós, são os mesmos que o iniciaram – administradores de topo do Twitter, Instagram, Pinterest, Facebook, e outros sites que canalizam o nosso tempo e atenção. Estes peritos temem agora os efeitos que os "frankensteins" que criaram terão na saúde mental dos utilizadores, mas também nas bases que sustentam a democracia.
As entrevistas aos especialistas são exibidas intercaladamente com cenas fictícias (mas não tanto, quando comparadas à nossa realidade), que nos mostram como o scrolling infinito e as notificações pop-up nos mantêm constantemente envolvidos, e como as recomendações personalizadas usam os nossos dados não só para prever, mas também para influenciar as nossas ações, colocando-nos "nas mãos" do marketing e da publicidade.
The Social Dillema alarma-nos quanto ao perigo de data mining e o impacto da manipulação da tecnologia, que vai muito além das nossas vidas sociais.
"Fyre" social media from our lives or deal with them?
Apesar de todas as alterações que as redes sociais vieram a provocar na nossa vida - não só social -, como ambos os documentários demonstram, estas não deixam de ser ferramentas indispensáveis para várias profissões, especialmente a de Relações Públicas. E a verdade é que, independentemente da influência que estas possam ter no nosso dia a dia, já nenhum de nós vive sem estas plataformas, por isso, devemos apenas dosear corretamente a nossa dose online diária - através, por exemplo, das várias dicas que os peritos nos dão no final do segundo documentário. Mas, de qualquer forma, deixo-vos algumas dicas pessoais:
6 dicas para "dar um tempo" às redes sociais
Desligar as notificações;
Limitar o teu screen time;
Apagar as redes sociais que já não usas;
Arranjar um novo hobbie, fora do online;
Verificar como estão a tua família e amigos no offline;
Ver as redes sociais como uma "recompensa" pela tua produtividade.
Para as Relações Públicas, as redes sociais funcionam como uma ponte que liga a organização aos seus públicos, permitindo não só criar relações entre os dois, como perceber as necessidades e expectativas destes públicos e aquilo que estes pensam, em tempo real. Contudo, estas plataformas não podem ser usadas de qualquer forma, têm de ter sempre em conta a transparência e a honestidade sob risco de destruir esta ponte, prejudicando a confiança e fidelização dos públicos.
Bom, depois destas recomendações, basta manterem os olhos abertos. Até para a semana!
Francisca
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